quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A IGREJA É DO POVO


Lídia Baptista:



Li com toda a atenção o teu desabafo. Compreendo-o. Contudo, não posso aceitar os equívocos (e não poucos) em que incorreste.


1º - “A igreja é do povo”.


Sem dúvida, a Igreja do Cercal é pertença da comunidade local que na sua totalidade é católica. Nunca pensei o contrário e muito menos procurei apossar-me da igreja: nem da do Cercal nem doutra qualquer. Não tenho essas ambições.


O que pretendo, é que todo o Património da Igreja seja, não somente preservado como aperfeiçoando, de forma a corresponder às exigências pastorais dos tempos que correm. Outra não é, nem pode ser a função do Pároco, como primeiro representante do Conselho Económico da Igreja Paroquial.


E, se eventualmente, alguém do supramencionado Conselho Económico o não desejar, é obrigação do Pároco opor-se por forma a salvaguardar os interesses da Comunidade. Limitarmo-nos a manter o que recebemos dos nossos antepassados é muito pouco.


“Os pássaros é que fazem os ninhos sempre da mesma maneira”.


Os seres humanos têm de revelar um comportamento mais ambicioso que lhes permita tornarem-se credores do que receberam, proporcionando às gerações futuras um testemunho vivo e de renovação.


Acaso não é esse o soberbo espectáculo que as ondas do mar nos revelam? Água constantemente renovada, mantendo-se a mesma realidade: mar.


2º - “A nossa igreja é linda, é alegre e é grande”.


Linda? – Com tacos podres por toda a parte; com um lambrim, bastante danificado; as paredes, com uma pintura roçada em vários locais? A não ser que aqui valha o ditado popular: “Quem o feio ama, bonito lhe parece”.


Alegre? – Como há-de revelar carácter festivo, quando tudo se tem conjugado para adiar as obras na Igreja?


Grande? – Quando carece de bancos para a assembleia e de espaço digno e suficiente, junto do altar-mor, para a celebração de Baptismos e de Casamentos!!


Estas condições podem ser criadas, sem que para tanto seja demolida qualquer parede.


Esta é a proposta do Projecto de Remodelação da Igreja. Haja vontade em o executar.


3º - “Dizer que a Igreja não tem valor é uma ofensa ao povo e a todos os que se sacrificaram para a pôr de pé”.



Longe de mim, menosprezar o que outros com tanta generosidade e sacrifício conseguiram fazer. Foi o que puderam. Hoje, com os meios que temos ao nosso alcance, certamente fariam melhor. Contudo, isso não invalida que possamos com toda a verdade reconhecer que a Igreja Paroquial que nos deixaram, tem as suas limitações.


Ora é precisamente com base nessas limitações que desejamos proporcionar à Igreja Paroquial outras condições de forma a conferir-lhe mais valor e funcionalidade.


4º - “Os padres não são donos de nada”.


Esta afirmação de D. Serafim Ferreira e Silva, antigo Bispo de Leiria-Fátima foi publicada no mensário regional “Voz de Mira de Aire” – 20-7-2002.


Retirada do contexto da entrevista, pouco nos diz, senão mesmo falseia o pensamento do autor. Melhor se compreenderia, se tivesses transcrito algo mais da entrevista. Por exemplo:


“Os bens de Fátima são do povo, não são dos padres. (…) Os padres não são donos de nada. O Bispo da diocese de Leiria- Fátima não é dono dos dinheiros de Fátima nem dos valores de Fátima. (…)


O Bispo não é dono de nada; é o responsável. (…) Escolhe um administrador, faz confiança nele, que dá contas a tempo e horas”.


Com base nestes novos elementos, talvez se compreenda melhor o pensamento do Sr. Bispo. De facto, nem o Bispo, nem os Padres, são donos do que pertence à Comunidade. Mas são responsáveis pela administração dos bens da Comunidade.


No caso dos Padres, o Bispo quando nomeia um sacerdote, Pároco duma comunidade, confere-lhe o direito e o dever de administrar os bens da Igreja.


E o Pároco, por sua vez, escolhe outras pessoas que o possam ajudar na sua missão. Por via disso, anualmente os Párocos têm de apresentar ao Sr. Bispo toda a receita e despesa da Igreja e Capelas da Comunidade.


5º - “Será que a riqueza só está nas coisas exteriores? Há coisas muito mais importantes. A riqueza está no coração de cada um que entra com fé para rezar, louvar e agradecer”.


Sem dúvida, uma vida íntegra, compreensiva, responsável, agrada mais a Deus do que todos os valores materiais. Em termos diferentes, Jesus já o havia lembrado: “O mais importante da Lei: é a justiça, a misericórdia e a felicidade”. (Mt 23,23)


Contudo, as riquezas materiais não são para desprezar, porque dons de Deus ao serviço dos homens.


E sempre que o ser humano as coloca ao serviço de Deus, dignificando os espaços de culto, no fundo, está a criar as condições humanas e psíquicas para que todos os crentes se encontrem com Deus e LHE manifestem gratidão pela obra da Criação.


6º - “Todos sabem que o povo não está de acordo com as obras que alguns querem fazer”.


Mas, então, quem é o povo? Apenas os que se opõem ao Projecto?


E os outros, (que poderão não ser tão poucos como imaginas), não são povo?


Tenhamos cuidado em não excluir ninguém. Todos somos poucos para levarmos por diante o Projecto.


E para terminar: uma sugestão.


Porque não havemos todos = Povo, de agarrar o Projecto, sem complexos ou preconceitos de qualquer ordem e reconhecer, com verdade, que ele é uma mais-valia para o património da Igreja?


Não o confirmaram os dois membros da Comissão de Arte Sacra da nossa Diocese, que recentemente se deslocaram à nossa Paróquia?


Compreendamos, primeiramente, o Projecto. Depois, outras etapas se seguirão… Roma e Pavia não se fizeram num dia. Pouco, mas bem feito, valerá mais, do que muito e mal feito.


P. Manuel Santos Lopes





1 comentário:

Anónimo disse...

Sr. Padre, quando se faz um artigo para um jornal publico e para o bem da terra, nunca se deve usar a 2ª pessoa do singular.
Assim nunca serão publicados os seus artigos.