quarta-feira, 9 de setembro de 2009

CAPA SETEMBRO 2009


DEBATE SOBRE AS OBRAS NA IGREJA

No dia 21 do mês de Agosto pelas 21:30 decorreu na sede da junta de freguesia do Cercal uma reunião com o intuito de abordar o tema “remodelação da Igreja paroquial do Cercal”. Esta reunião contou com a presença do Sr. padre Sousa, Sr. padre Janeiro (Comissão Arte Sacra) bem como do pároco da freguesia do Cercal, o Sr. Manuel Santos Lopes. Depois de uma breve explicação sobre os valores da arte sacra assim como a importância e preservação da igreja matriz, de forma a cumprir os requisitos do bem-estar da população, concluiu-se que havia necessidade de haver um maior e melhor aproveitamento de espaços não utilizados, adequando-os da melhor forma tornando mais fácil todas as práticas e exigências pastorais. Dada essa explicação coube ao povo dar o seu parecer. Não sendo o local e a hora apropriada, inicialmente foi uma guerra de ataques pessoais ao pároco da freguesia. Dando como exemplo a mudança de hora da missa, nada tinha a ver com o assunto que ali se estava a tratar. Houve opiniões contra o projecto, argumentando que não havia motivação, força e empenho por parte da população como outrora para angariar dinheiro para as futuras despesas. Mencionando também que não seria necessário fazer algo de tão “grandioso”, pois existem cada vez menos fiéis a assistir à missa. Porém, há quem tenha uma visão mais futurista sublinhando a ideia de que toda a população beneficiaria com a remodelação da Igreja Matriz, transmitindo uma ideia de população moderna e aberta a novos desafios.

Para concluir, a direcção do Ramo d’Além achou por bem não publicar alguns artigos relacionados com este assunto, visto achar que o jornal serve para publicar notícias de âmbito geral e não de diálogos entre prós e contras.

Jornal Ramo D'Além

HISTÓRIAS DO PASSADO

Era uma vez um homem rico que tinha um filho; quando morreu apareceram dois dizendo ser filhos do falecido. Ora já se sabe, tiveram que seguir a lei da justiça e chegada a hora da audiência o juiz pôs-lhes uma fotografia do pai em frente e deu uma seta a cada um dizendo: “Aquele que acertar com a seta mais no centro do coração é o que vai ser o herdeiro.”

O primeiro a atirar acertou mesmo no centro do coração; chegada à vez do segundo atirar a seta disse: “Prefiro perder toda a herança de meu pai, mas não atiro a seta, mesmo que seja na sua fotografia”. Foi com esta prova de amor, que o juiz considerou ser aquele o verdadeiro filho e herdeiro da fortuna.

Pois é isto mesmo que se está a passar na nossa freguesia do Cercal, com a nossa igreja. Quem, como eu brincou nos seus alicerces, assistiu à inauguração da primeira pedra; onde se depositou uma caixa em ferro com moedas no sitio do altar principal e acompanhou a sua construção; com alegrias, tristezas, muito trabalho e sacrifícios, tem-lhe amor e com esse amor continua. Com o desejo de a embelezar o máximo por dentro no necessário e mantendo a sua origem.

Ao contrário está quem não lhe tem amor, querendo “destrui-la”, tirando a sua origem; a fim de a aumentar... Mas para quê? O espaço que ela tem hoje não chega? Serão as obras que vêm trazer mais fiéis à nossa igreja?

Está à vista que quem não lhe tem amor, só pensa em destruir o que os nossos antepassados fizeram, na vaidade, tudo á grande e à moderna; que é o que mais detestamos.

E o autor destas obras só vieram para desunir a nossa freguesia, desunir as famílias. O que lhe temos a agradecer?

M.ª Emília Pereira

A IGREJA É DO POVO


Lídia Baptista:



Li com toda a atenção o teu desabafo. Compreendo-o. Contudo, não posso aceitar os equívocos (e não poucos) em que incorreste.


1º - “A igreja é do povo”.


Sem dúvida, a Igreja do Cercal é pertença da comunidade local que na sua totalidade é católica. Nunca pensei o contrário e muito menos procurei apossar-me da igreja: nem da do Cercal nem doutra qualquer. Não tenho essas ambições.


O que pretendo, é que todo o Património da Igreja seja, não somente preservado como aperfeiçoando, de forma a corresponder às exigências pastorais dos tempos que correm. Outra não é, nem pode ser a função do Pároco, como primeiro representante do Conselho Económico da Igreja Paroquial.


E, se eventualmente, alguém do supramencionado Conselho Económico o não desejar, é obrigação do Pároco opor-se por forma a salvaguardar os interesses da Comunidade. Limitarmo-nos a manter o que recebemos dos nossos antepassados é muito pouco.


“Os pássaros é que fazem os ninhos sempre da mesma maneira”.


Os seres humanos têm de revelar um comportamento mais ambicioso que lhes permita tornarem-se credores do que receberam, proporcionando às gerações futuras um testemunho vivo e de renovação.


Acaso não é esse o soberbo espectáculo que as ondas do mar nos revelam? Água constantemente renovada, mantendo-se a mesma realidade: mar.


2º - “A nossa igreja é linda, é alegre e é grande”.


Linda? – Com tacos podres por toda a parte; com um lambrim, bastante danificado; as paredes, com uma pintura roçada em vários locais? A não ser que aqui valha o ditado popular: “Quem o feio ama, bonito lhe parece”.


Alegre? – Como há-de revelar carácter festivo, quando tudo se tem conjugado para adiar as obras na Igreja?


Grande? – Quando carece de bancos para a assembleia e de espaço digno e suficiente, junto do altar-mor, para a celebração de Baptismos e de Casamentos!!


Estas condições podem ser criadas, sem que para tanto seja demolida qualquer parede.


Esta é a proposta do Projecto de Remodelação da Igreja. Haja vontade em o executar.


3º - “Dizer que a Igreja não tem valor é uma ofensa ao povo e a todos os que se sacrificaram para a pôr de pé”.



Longe de mim, menosprezar o que outros com tanta generosidade e sacrifício conseguiram fazer. Foi o que puderam. Hoje, com os meios que temos ao nosso alcance, certamente fariam melhor. Contudo, isso não invalida que possamos com toda a verdade reconhecer que a Igreja Paroquial que nos deixaram, tem as suas limitações.


Ora é precisamente com base nessas limitações que desejamos proporcionar à Igreja Paroquial outras condições de forma a conferir-lhe mais valor e funcionalidade.


4º - “Os padres não são donos de nada”.


Esta afirmação de D. Serafim Ferreira e Silva, antigo Bispo de Leiria-Fátima foi publicada no mensário regional “Voz de Mira de Aire” – 20-7-2002.


Retirada do contexto da entrevista, pouco nos diz, senão mesmo falseia o pensamento do autor. Melhor se compreenderia, se tivesses transcrito algo mais da entrevista. Por exemplo:


“Os bens de Fátima são do povo, não são dos padres. (…) Os padres não são donos de nada. O Bispo da diocese de Leiria- Fátima não é dono dos dinheiros de Fátima nem dos valores de Fátima. (…)


O Bispo não é dono de nada; é o responsável. (…) Escolhe um administrador, faz confiança nele, que dá contas a tempo e horas”.


Com base nestes novos elementos, talvez se compreenda melhor o pensamento do Sr. Bispo. De facto, nem o Bispo, nem os Padres, são donos do que pertence à Comunidade. Mas são responsáveis pela administração dos bens da Comunidade.


No caso dos Padres, o Bispo quando nomeia um sacerdote, Pároco duma comunidade, confere-lhe o direito e o dever de administrar os bens da Igreja.


E o Pároco, por sua vez, escolhe outras pessoas que o possam ajudar na sua missão. Por via disso, anualmente os Párocos têm de apresentar ao Sr. Bispo toda a receita e despesa da Igreja e Capelas da Comunidade.


5º - “Será que a riqueza só está nas coisas exteriores? Há coisas muito mais importantes. A riqueza está no coração de cada um que entra com fé para rezar, louvar e agradecer”.


Sem dúvida, uma vida íntegra, compreensiva, responsável, agrada mais a Deus do que todos os valores materiais. Em termos diferentes, Jesus já o havia lembrado: “O mais importante da Lei: é a justiça, a misericórdia e a felicidade”. (Mt 23,23)


Contudo, as riquezas materiais não são para desprezar, porque dons de Deus ao serviço dos homens.


E sempre que o ser humano as coloca ao serviço de Deus, dignificando os espaços de culto, no fundo, está a criar as condições humanas e psíquicas para que todos os crentes se encontrem com Deus e LHE manifestem gratidão pela obra da Criação.


6º - “Todos sabem que o povo não está de acordo com as obras que alguns querem fazer”.


Mas, então, quem é o povo? Apenas os que se opõem ao Projecto?


E os outros, (que poderão não ser tão poucos como imaginas), não são povo?


Tenhamos cuidado em não excluir ninguém. Todos somos poucos para levarmos por diante o Projecto.


E para terminar: uma sugestão.


Porque não havemos todos = Povo, de agarrar o Projecto, sem complexos ou preconceitos de qualquer ordem e reconhecer, com verdade, que ele é uma mais-valia para o património da Igreja?


Não o confirmaram os dois membros da Comissão de Arte Sacra da nossa Diocese, que recentemente se deslocaram à nossa Paróquia?


Compreendamos, primeiramente, o Projecto. Depois, outras etapas se seguirão… Roma e Pavia não se fizeram num dia. Pouco, mas bem feito, valerá mais, do que muito e mal feito.


P. Manuel Santos Lopes





A IGREJA É DO POVO



Diz o ditado “Quem cala consente”, nem sempre corresponde à verdade, porque ainda que não se manifeste fica-se sempre com a revolta e a mágoa de o não ter feito. Isto a propósito da nossa Igreja. Todos sabem que o povo não está de acordo com as obras que alguns querem fazer. Já se gastou muito dinheiro, dava para fazer as obras que tanto precisa e que já esperamos há mais de dez anos.


A nossa igreja é linda, é alegre e é grande. Cabem todos e muitos mais que queiram vir.


Dizer que a Igreja não tem valor é uma ofensa ao povo e a todos os que se sacrificaram para a por de pé. Será que a riqueza só está nas coisas exteriores? Há coisas muito mais importantes. A riqueza está no coração de cada um que entra com fé para rezar, louvar e agradecer ao Senhor.


Jesus viveu e ensinou-nos a viver na simplicidade e na humildade.


A igreja é do povo, os padres não são donos de nada, assim disse D. Serafim, na altura bispo da Diocese de Leiria/Fátima, a uma entrevista ao mensário «Voz de Mira d’ Aire», e que veio na Voz de Domingo em Agosto de 2002.


Não devem impor ao povo o que ele não quer. Quem é que vai pagar?



Lidia Baptista